Um guia prático para jornalistas e ativistas climáticos baseado em declarações oficiais de organizações indígenas
O que você diz sobre a Amazônia revela mais do que você pensa. E pode estar sabotando a sobrevivência do planeta.
Imagine isto: há territórios na Amazônia onde apenas 5,8% da floresta foi destruída. Durante esses mesmos anos, as “áreas protegidas” gerenciadas por governos perderam entre 20-30% de sua vegetação.
A diferença? Os primeiros são governados por povos indígenas. Os segundos, por “especialistas internacionais.”
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Neste novembro, mais de 3.000 líderes indígenas chegarão a Belém, Brasil, para a COP30—a cúpula climática mais importante do ano. São 25 vezes mais participação indígena do que na COP26.
Mas aqui está a contradição brutal: enquanto o Brasil se posiciona como líder climático global, seu Congresso acabou de aprovar o Projeto de Lei 2159/21 que ameaça 121 territórios indígenas.
É como queimar uma biblioteca enquanto você se declara especialista em literatura.
As palavras que usamos não são inocentes. Estão construindo o mundo—ou destruindo-o.
Este artigo é baseado no Amazon Climate Communication Toolkit: Decolonial Media Guide. Baixe o guia completo gratuitamente AQUI.

Aqui estão as 10 transformações de linguagem que podem mudar tudo. Não se trata de ser “politicamente correto”. São mudanças estrategicamente necessárias. E os dados as sustentam.
❌ NUNCA usar: “Tribos indígenas”
❌ Evitar: “Grupos indígenas”
✅ Usar: Terminologia específica segundo país e contexto legal
Evidência: Os termos corretos variam segundo marcos legais conquistados por movimentos indígenas:
EQUADOR: “Nacionalidades indígenas” (termo constitucional oficial)
BRASIL: “Povos indígenas,” “Povos originários,” “Povos e comunidades tradicionais”
BOLÍVIA: “Nações e povos indígenas originários campesinos”
COLÔMBIA: “Povos indígenas” ou “Comunidades indígenas”
PERU: “Comunidades nativas” (Amazônia), “Comunidades campesinas” (Andes)
CONTEXTO INTERNACIONAL: “Povos indígenas da Bacia Amazônica,” “+266 nações indígenas amazônicas”
REGRA DE OURO: Use sempre o nome específico da nação/povo:
Por que isso importa:
“Tribo” é um termo colonial que infantiliza e nega sofisticação política. “Grupo” apaga autoridade governamental. Usar a terminologia correta segundo o país:

❌ Evitar: “Os grupos indígenas participarão da COP30”
✅ Usar: “As maiores autoridades climáticas exercem liderança na COP30”
Evidência: Toya Manchineri, coordenador da COIAB: “As maiores autoridades climáticas somos nós, os guardiões da Terra, os líderes indígenas.”
O Relator Especial da ONU (agosto de 2025) confirma que 91% dos territórios indígenas mantêm bom estado ecológico vs. degradação continuada sob abordagens de “apenas-consulta”.
Por que isso importa:
Quando você diz “grupos,” os converte em uma voz entre muitas partes interessadas. Mas eles não são “apenas outra voz”. São autoridades com sistemas governamentais comprovados ao longo de milênios que mantêm 91% de seus territórios intactos.
❌ Evitar: “Permitir participação indígena na COP30”
✅ Usar: “Os líderes indígenas têm voz e poder iguais aos Chefes de Estado”
Evidência: Declaração oficial de povos indígenas da Amazônia, Pacífico e Austrália (abril de 2025):
“Que os líderes das comunidades indígenas e locais tenham igual voz e poder que Chefes de Estado na COP30, com a mesma legitimidade, poder de decisão e respeito que as representações dos países.”
Por que isso importa:
Não se trata de “incluir” ou “permitir.” Os +3.000 delegados indígenas na COP30 representam sistemas governamentais que demonstram superioridade empírica em conservação. A pergunta não é “podem participar?” mas “quando terão o poder de decisão que seus resultados merecem?”

❌ Evitar: “A Amazônia, pulmão do planeta”
✅ Usar: “Ecossistema vivente amazônico” / “A Amazônia como ecossistema vivente”
Evidência: A Bacia Amazônica possui +266 povos indígenas (391 povos só no Brasil), comunidades quilombolas e povos extrativistas que mantêm relações territoriais milenares. O enquadramento “pulmão” converte ecossistemas em serviços para a humanidade. “Ecossistema vivente” reconhece sistemas de reciprocidade territorial que sustentaram a biodiversidade por milênios com resultados superiores: 5,8% vs 20-30% de desmatamento.
Por que isso importa:
Quando você diz “pulmão do planeta,” você está:
“Ecossistema vivente” reconhece que a Amazônia não é um recurso para gestão externa—é um território com relações de reciprocidade mantidas por povos que demonstram resultados empiricamente superiores.

❌ Evitar: “Consultar comunidades indígenas”
✅ Usar: “Reconhecer soberania territorial com Consentimento Livre, Prévio e Informado vinculante”
Evidência: Declaração Pré-COP Indígena da COICA (outubro de 2025, Brasília):
“Garantir salvaguardas e CLPI vinculante em todas as decisões de mitigação, adaptação, transição energética e biodiversidade.”
Documentos governamentais brasileiros usam sistematicamente “participação” evitando “soberania.” Correlação direta:
Por que isso importa:
“Consulta” significa: “Perguntamos sua opinião, depois fazemos o que queremos.”
“Consentimento vinculante” significa: “Sem sua aprovação, o projeto não avança. Ponto final.”
A diferença é vida ou morte para territórios.

❌ Evitar: “Alocar fundos climáticos para povos indígenas”
✅ Usar: “Financiamento direto a organizações indígenas sem intermediários”
Evidência: Exigência oficial da COICA na Pré-COP Indígena:
“Exigir financiamento direto e simplificado às organizações indígenas.”
O financiamento climático a comunidades indígenas é de $517 milhões anuais. Mas isso representa menos de 1% do financiamento climático global, e a maioria passa por intermediários que retêm até 80% dos fundos.
Por que isso importa:
Não se trata de “receber dinheiro”. Trata-se de:
Povos indígenas gerenciam 25% da superfície terrestre com biodiversidade superior enquanto recebem menos de 1% do financiamento. O problema não é capacidade—é estrutura colonial de poder.

❌ Evitar: “Soluções baseadas na natureza com participação indígena”
✅ Usar: “Reconhecer os territórios indígenas como solução climática e de biodiversidade baseada em direitos”
Evidência: Posição oficial da COICA para COP30:
“Reconhecer os territórios indígenas como solução climática e de biodiversidade baseada em direitos.”
Territórios indígenas armazenam 340 milhões de toneladas de CO₂. Não são “áreas de conservação”—são sistemas governamentais ativos com resultados superiores.
Por que isso importa:
“Conservação” soa como museus—preservar algo estático. Territórios indígenas não estão “conservando” em sentido passivo. Estão governando ativamente com sistemas de gestão que geram resultados superiores a qualquer modelo estatal.
O enquadramento de “solução climática baseada em direitos” reconhece:

❌ Evitar: “Populações indígenas vulneráveis às mudanças climáticas”
✅ Usar: “A resposta somos nós”
Evidência: “A Resposta Somos Nós” é o lema oficial da COIAB para a COP30 e o tema do Acampamento Terra Livre 2025.
Posição Oficial dos Povos Indígenas Amazônicos (OTCA 2025):
“Nossos modos de vida já oferecem soluções concretas para enfrentar as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade com justiça e eficácia.”
Por que isso importa:
“Vulnerável” posiciona os povos indígenas em vítimas precisando de salvação. Mas os dados contam outra história de superioridade técnica verificável com orçamentos infinitamente menores.
“A resposta somos nós” reconhece:

❌ Evitar: “A Amazônia como patrimônio comum da humanidade”
✅ Usar: “Territórios de vida para povos indígenas”
Evidência: Jammer Manihuari, vice-coordenador da COICA:
“A Amazônia não é uma zona de sacrifício, é território de vida para os povos indígenas e pilar essencial para o equilíbrio climático do planeta.”
A COP30 terá a maior participação indígena na história das COPs. A campanha “A Resposta Somos Nós” posiciona as vozes indígenas no centro dos debates e soluções. A Comissão Internacional Indígena tem status oficial.
Por que isso importa:
“Patrimônio comum da humanidade” parece bonito. Mas é colonialismo verde.
A Amazônia não pertence a toda a humanidade. Pertence às mais de 266 nações que a mantiveram de pé por milhares de anos enquanto o resto do mundo colapsava seus ecossistemas.
A contradição brutal da COP30: O Brasil promete posicionar vozes indígenas no centro enquanto seu Congresso aprova o Projeto de Lei 2159/21— “o PL da Devastação”, ameaçando 121 territórios indígenas.

❌ Evitar: “Incluir vozes indígenas nas decisões”
✅ Usar: “Círculo de Liderança Indígena com impacto político concreto, não simbólico”
Evidência: Declaração da COIAB sobre o Círculo de Liderança Indígena anunciado para COP30:
“Não queremos uma instituição meramente simbólica e performativa, sem impacto político concreto. Ninguém mais tem o privilégio de esperar que as promessas se tornem fatos no futuro: nossas vidas estão em risco agora.”
A presidência brasileira da COP30 propôs a criação do Círculo de Liderança Indígena, coordenado pelo Ministério dos Povos Indígenas sob liderança da ministra Sonia Guajajara.
Por que isso importa:
Não se trata de “dar voz.” Trata-se de reconhecer que a autoridade sobre territórios inclui autoridade sobre narrativas e decisões territoriais.
O Círculo de Liderança não pode ser:
Deve ser:

Para Jornalistas:

Teste de linguagem antes de publicar:
Cite especificamente:
Contate autoridades territoriais ANTES da cobertura:
Audite sua linguagem sistematicamente:
Crie posições reais com poder:
Redistribua receita eticamente:

Teste antes de compartilhar:
Amplifique fontes primárias:
Conecte lutas:
🚨 Enquadramento colonial detectado:
“A Amazônia como bem comum global requer gestão internacional”
✅ Correção imediata:
“Territórios amazônicos são territórios indígenas com sistemas de governança que demonstram 91% de eficácia em manter boas condições ecológicas. O apoio internacional deve fortalecer a autoridade territorial indígena, não substituí-la.”
📊 Indicadores imediatos (durante a COP30):
📈 Indicadores de médio prazo (3-6 meses):
🎯 Indicadores de transformação sistêmica (12-18 meses):
🎯 Transformar a COP30 de espetáculo extrativo para jornalismo de soberania territorial.
Este kit de ferramentas é baseado em declarações oficiais da COICA, APIB, COIAB e 18 meses de pesquisa sobre enquadramentos narrativos, correlação político-ambiental e documentação de modelos bem-sucedidos de autoridade editorial indígena.

Futuro Amazonia é uma iniciativa de estratégia narrativa dedicada a transformar a soberania territorial indígena amazônica de uma demanda marginalizada em uma necessidade reconhecida de infraestrutura climática. Fundados no princípio de que os povos indígenas possuem sistemas de governança milenares com resultados de conservação empiricamente comprovados, aplicamos estratégia narrativa para desafiar estruturas coloniais no discurso e nas políticas climáticas.

Futuro Amazonia é fiscalmente patrocinada pela Weaving Worlds Inc e pelo Esperanza Project. O Kit de Comunicação Climática da Amazônia foi desenvolvido com o apoio e em colaboração com Weaving Worlds Inc, Mídia Indígena e Culture Hack Labs.
Weaving Worlds Inc. é uma organização isenta de impostos 501(c)(3). Sua doação para apoiar este projeto é dedutível de impostos de acordo com as diretrizes da lei dos EUA. Todas as doações são usadas para promover os propósitos isentos da organização.

Saiba mais: https://futuroamazonia.net/
Créditos: Design do Kit: Sol Terena (@grafismosindigena)
Contato: [email protected]
Licença: Creative Commons Share-Alike 4.0 para máxima distribuição e adaptação.
“As maiores autoridades climáticas somos nós, os guardiões da Terra, os líderes indígenas.”
— Toya Manchineri, Coordenador COIAB
“A resposta somos nós. Todos nós!”
— Lema oficial indígena na COP30
📖 Documentação oficial:

Declarações Indígenas para COP30:
Marcos Legais Internacionais:
🔬 Pesquisa acadêmica:
🏆 Modelos bem-sucedidos verificados:

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